Sócrates à direita de Cavaco.
Cavaco falou no "sonho de uma justiça social, da construção de uma sociedade mais justa e equilibrada, em que os benefícios do desenvolvimento contemplassem todos."
Disse ainda: "Trinta e dois anos após a revolução, o Portugal desta encruzilhada entre o passado e o futuro continua a ser um país fortemente marcado pelo dualismo do seu desenvolvimento."; "Indisfarçável arcaísmo social e cultural"; "profundas disparidades revelam-se na leitura do território. É cada vez maior o fosso entre as regiões marcadas por uma ruralidade periférica e as regiões mais urbanizadas"; "tardamos a encontrar um rumo de desenvolvimento sustentável do interior do País"; "O nosso País é, no quadro da União Europeia, o que apresenta maior desigualdade de distribuição de rendimentos. E é também aquele em que as formas de pobreza são mais persistentes."; "O risco de pobreza persistente, que é relativamente elevado em Portugal, aumenta substancialmente no caso dos idosos."; " Não é moralmente legítimo pedir mais sacrifícios a quem viveu uma vida inteira de privação."; "Ao evocar esses dias de sonho e de esperança, lembro-me sempre daquele cartaz em que uma criança colocava um cravo no cano de uma espingarda. A carga simbólica desse cartaz é iniludível e vale a pena questionarmos: como cresceu aquela criança? Como crescem os milhares de crianças portuguesas? Será que estamos a tratar bem as novas gerações?"
Cavaco assumiu-se como sempre foi: um social democrata, de matriz europeia e responsável por reformas sociais muito importantes no nosso país. Mas se Cavaco acertou no diagnóstico, ficou muito curto na receita. Não conseguiu ir mais longe do que "propor um compromisso cívico, um compromisso para a inclusão social", "um plano nacional para a inclusão". É pouco. Muito pouco.
É que o problema da justiça social começa pela justiça fiscal. Ora, Portugal tem um sistema social decalcado dos países do Europa do norte e um sistema fiscal herdado dos países da Europa do sul. E enquanto isso acontecer de nada nos valem os discursos.
http://www.presidencia.pt/index.php?id_categoria=21&id_item=278